Nesta
quinta-feira, 26, a Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul recebeu o
superintendente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional) em Santa Catarina, Dalmo Vieira Filho, que veio à Jaraguá do Sul para
explanar sobre o processo de tombamento do bairro Rio da Luz.
O
Iphan foi criado em 1937, impulsionado pelo Movimento Modernista, mais
especificamente, a Semana de Arte Moderna de São Paulo, em 1922. O escritor Mário
de Andrade foi o precursor no que diz respeito à preservação da cultura e das
produções brasileiras. Dalmo ressaltou que o escritor ressaltava a importância
de se valorizar o país e não apenas dar valor ao que vinha do exterior, ato
comum na época.
A
instituição já possui mais de 70 anos e hoje trabalha com cerca de 1.300 bens
tombados em todas as regiões e em todos os Estados do Brasil e há em torno de
100 cidades e núcleos históricos do país.
O
superintende do Iphan explicou que nos últimos seis anos, existe uma ação
integrada com o aprofundamento de estudos acerca de tombamentos nas cidades, em
um processo de globalização das paisagens urbanas e rurais do Brasil. Ele
apontou as interferências nas paisagens urbanas e rurais como um grande problema
nacional. Principalmente a conservação das paisagens rurais.
Dalmo
contextualizou a função do órgão. “O Iphan não trabalha com o passado, mas com
o que precisa fazer parte do futuro, com as coisas e lugares que não podemos
deixar de legar para os nossos filhos e netos. Se nós destruirmos,
desarticularmos esses lugares singulares estaremos empobrecendo e
problematizando o futuro do nosso país”, disse.
De
acordo com ele, os processos de tombamento são extremamente cuidadosos. Demoram
em média 10 anos. Em Santa Catarina, o projeto começou em 1983. Os estudos se
desenvolveram em 50 municípios, sendo feitos em comparação com paisagens de
imigrantes também do Espírito Santo, Paraná e Rio Grande do Sul. O resultado
final incidiu sobre 16 municípios, do Sul ao Nordeste do Estado. O trabalho
contou com inúmeras reuniões técnicas, com a Prefeitura de Jaraguá do Sul, e
foi deflagrado ato público em 2007, contando com presença do então Ministro da
Cultura, Gilberto Gil, o governador do Estado, assinando o que se chamou de
Implantação dos Roteiros Nacionais de Imigração. “Nestes 20 anos, nós podemos
dizer que percorremos todas as estradas. A proteção começa com inventário,
percorrer todos os caminhos, estudos de comparação. Desde 1985 já se trabalhava
com a noção de que Jaraguá do Sul, Pomerode, Timbó, Indaial, Joinville e São
Bento do Sul eram detentores de patrimônio sem similar no Brasil”.
O
superintendente esclareceu o tombamento de parte do território do Rio da Luz.
Ele afirmou que equivale de 2 a 3% do território de Jaraguá do Sul. A principal
função deste processo é fazer com que a área não perca as características dos
imigrantes. “Não deve fazer com que área fique estagnada, mas que o
desenvolvimento se dê sem perder as singularidades da área. Não impede a venda,
o aluguel e a hipoteca da área tombada. Em grandes áreas, áreas de amortização,
as mudanças de procedimentos são pequenas, residuais”.
A
área de tombamento abrange uma porção pequena do bairro. Acima da antiga
empresa de alimentos Seara, toda a região em direção à Pomerode. O Iphan
trabalha com uma divisão em quatro áreas diferentes. Área de atenuação 1, onde
os parâmetros serão praticamente os do Plano Diretor do município. A área 2,
que se aproxima da área tombada. A 3, a área de preservação tombada chegando às
duas igrejas, próximo à encosta do morro. E ao entorno de área tombada também
haverá algumas restrições. “Basicamente, visam criar área de atenuação entre o
crescimento urbano que vai continuar e a área protegida. É uma hipótese.
Começa-se a se trabalhar com uma proteção”.
Dalmo
disse que desde o começo desta ação, e particularmente, a partir do ano
passado, quando voltou a Santa Catarina, tem enfrentado alguns problemas, no
que diz respeito ao trabalho como um todo, nas 16 cidades. E a lacuna maior
estava em Jaraguá do Sul. “Havia certa ausência do Iphan acompanhando os
processos de ocupação do território. A cidade se desenvolveu muito, nos últimos
dez anos e particularmente em 2008. Uma série de empreendimentos em cursos,
inclusive na área tombada. E no começo precisou enfrentamento. Precisávamos
participar destas transformações. Este esforço resultou em detectar os
problemas, trabalhar junto com a Prefeitura para uma normativa de
desenvolvimento e preservação. Sempre que se toma medida visando o futuro e
quando coisas correm soltas, encontra-se resistência, pontos em que se pode
estar diante de conflitos”.
Os
vereadores fizeram alusão ao termo de cooperação, um projeto de lei de autoria
da Prefeitura e aprovado pela Câmara de Vereadores, no qual isenta os moradores
da área de tombamento, principalmente, grandes área na cobrança de impostos
municipais. Dalmo completou dizendo que são dois documentos diferentes. O ato
do Iphan é o tombamento, o termo de cooperação foi uma parceria firmada entre a
Prefeitura e o Sebrae. Ele explicou que o processo de tombamento se faz através
de editais. O que houve foi o surgimento deste termo após o ato do Iphan. O
superintendente confirmou que é comum haver incompreensões, mas exaltou a
valorização das áreas após o tombamento. “Não acho que nenhum morador do Rio da
Luz será prejudicado. Sem falar no conjunto da sociedade. Este termo
subsequente ao ato do tombamento. É já um dos termos de parceria, desenvolvidos
com cada uma das 16 prefeituras. Até agora não dissemos que não pode fazer
loteamento na área urbana do município. A partir deste ato, os loteamentos
deveriam ter sido aprovados pelo Iphan e não foram. Estamos considerando de
maneira diferenciada os casos que foram aprovados pela Prefeitura, mesmo que não
foram aprovados pelo Iphan. Num primeiro momento não dissemos que não haveria
loteamento. Propusemos aumentar os lotes de 350 metros para 500 metros. Hoje a
possibilidade com que estamos trabalhando é fazer efetivamente coincidir essa
área com o limite do perímetro urbano e tratando de maneira diferenciada os
poucos lotes que já existem. O tombamento de maneira nenhuma incida a pobreza e
a estagnação. Se destina a fazer do Rio da Luz uma área nobre, área especial de
Jaraguá do Sul. Isso é construção de uma das paisagens do Brasil. É uma
tentativa de fazer com que estas coisas que sejam vistas como riqueza”. O
superintendente disse que o fato da cidade estar interligada com o coração do
Vale do Itajaí, Pomerode, uma das áreas mais importantes, e na sequência com
Indaial, Timbó e Benedito Novo, influenciou na escolha pelo Rio da Luz. “Uma
área faz com que se valorize as outras, por isso que se chama implantação dos
roteiros nacionais de imigração”, enfatizou.